27 de abr. de 2010

Financiador entrevista Mahatma Gandhi para analisar seu projeto de libertação da Índia


Estamos em 1920 e Mahatma Gandhi está se candidatando a uma verba. Seu entrevistador é um mestre em administração de empresas (embora não existisse tal coisa naquela época – mas vamos fingir que existia). A coisa acontece assim:

Mestre em Adm. – Vejo que sua meta é libertar a Índia. É um projeto bom, mas vejamos se é realista e se iremos patrocina-lo. Pergunta nº 1 – Quantos anos serão necessários para libertar a Índia? Desejo uma linha do tempo, um plano e um modelo de como você expulsará os britânicos.

Gandhi (coçando a cabeça) responde que pode levar 10, 20, 30 anos, ou talvez a vida inteira.

Mestre em Adm. – Esta é uma resposta bastante vaga Sr. Gandhi. Será que o senhor não pode especificar um prazo para libertar a Índia?

Gandhi responde que não, e alega falta de condições.

Mestre em Adm. – Certo. Vejamos, o Sr. diz aqui que organizará comícios e iniciará um movimento de desobediência civil. Preciso de números. Quantos comícios serão organizados em que cidades indianas? Quantas pessoas se estima que virão aos seus comícios? Como pretende garantir esse público e como irá mensurar a reação dessas pessoas depois do comício? Como medirá a mudança em andamento na direção desse seu objetivo, e como esta mudança levará à libertação?

Gandhi tenta pensar.

Mestre em Adm. – Muito bem, o Senhor escreveu também que irá encher as cadeias de indianos dispostos a segui-lo.

Gandhi – Sim.

Mestre em Adm. – Quantos o seguirão, segundo suas estimativas? Como fará com que se mantenham fiéis a esse modelo e dispostos a lutar? O Senhor afirma também que farão oposição não-violenta. Como garantirá que não fiquem temerosos e fujam?

Gandhi novamente tenta pensar.

Mestre em Adm. – O Senhor escreveu aqui que encherá as cadeias. Quanto tempo durará isto? De que forma isso levará os britânicos a deixarem a Índia e quem ficará em seu lugar? Será que eles reproduzirão seu modelo? Gostaria de ver um plano.

Gandhi diz que não tem plano. Começa a falar sobre a força espiritual que orienta a natureza humana.

O entrevistador diz que tudo isso parece muito vago e que os financiadores precisam de algo mais quantificável para subvencionar o projeto.

Mestre em Adm. – Sr. Gandhi, lendo o seu plano organizacional não consigo encontrar o seu cargo. Qual é? Tampouco está claro qual é a linha de comando. Para concedermos a verba precisamos um quadro nítido nesse sentido.

Gandhi diz que vai tentar pensar em algo.

Mestre em Adm. – Bem, Sr. Gandhi, qual é seu modelo de sustentabilidade? O senhor entende o que estou dizendo? Como o projeto se perpetuará quando nosso patrocínio acabar, se a Índia ainda não tiver sido libertada? Quem será o seu financiador?

Gandhi responde que procurará as pessoas e pedirá dinheiro.

O entrevistador balança a cabeça de um lado para o outro. Não, Sr. Gandhi, seu projeto não é sustentável. Não podemos conceder a verba.

Gandhi diz que continuará seu projeto ouvindo sua voz interior. Afirma que acredita em caminhar sozinho mesmo se ninguém quiser segui-lo.

O entrevistador, penalizado, se despede dele desejando-lhe boa sorte.

O resto é História.

Portanto, não nos preocupemos demais com modelos de negócios em empreendimentos sociais.

Esclarecimento: não se trata de nos igualarmos a Gandhi, mas de termos nele o nosso ideal.

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